I got ice in my fire,

lembrei-me, ao acaso, dos Jesus and the Mary Chain como luz de projectores sobre intuições abstractas, sobre o sentir, sobre o pensar, sobre a experiência livre das emoções, a lembrar aqui e ali, mas longe, Twin Peaks e, essencialmente, o imenso Eraserhead. Delírio sobre a tela, o delírio de quem sabe "só o fogo ser mágico ". Visão labiríntica, INLAND EMPIRE, mais do que um filme é a experiência estética levada aos limites sensoriais onde Lynch, como de costume, toca o maldito, entre a loucura e a sanidade. O rosto, belíssimo, como sempre, deste olhar visionário e alucinado, em fracturação, é de Laura Dern, naquela que será uma imensa galeria do horror, homenagem devida à musa de Blue Velvet. De preferência detestem. Eu, amei. Abriram-se os portões das catacumbas: a vida faz-se de ódio e só depois de amor, quando se faz. Esqueçam o cinema e contemplem a crueldade, esse momento único onde se persevera o Ser. Em tempo de Quaresma.

Galeria aqui, selecção da Sónia.